quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Você já tentou fugir de Deus?


Não foram poucas vezes que me vi tentado a sucumbir à síndrome de Jonas – aquele sujeito que tentou esconder-se de Deus e acabou engolido por um grande peixe, sendo levado ao seu destino final neste meio de transporte no mínimo inusitado. Alguns discordarão do que falo, dizendo que Jonas não estava fugindo de Deus, mas apenas da Vontade de Deus, coisas sinônimas e inseparáveis para mim.

Quem foi que nunca fugiu do pai ou da mãe por saber que se os encontrasse teria que fazer algo totalmente indesejável? Ou quem nunca faltou à aula daquele professor consciente de que se não o fizesse teria que responder às questões daquela prova para a qual não havia estudado? Da mesma forma Jonas não queria fazer o dever de casa, dever este delegado a ele pelo próprio Deus. Fugindo de suas obrigações Jonas não fugia apenas delas, mas da pessoa de Deus, da sua representação e significância.

E quantos de nós não procuramos de alguma forma fugir dessa presença que nos envolve o tempo todo? Ou ao menos quantas vezes você já tentou fingir que Ele não via, ouvia, ou popularmente bigbrodeava a sua vida? Sinceramente, eu já tentei por diversas vezes tirar férias de Deus, encontrar um lugar onde fosse possível estar realmente só, sem que Ele adentrasse a minha cabeça e vislumbrasse meus pensamentos e desejos tão desconcertantes para que alguém pudesse conhecer, principalmente sendo este alguém nada mais nada menos do que o próprio Deus! E foi diante dessa existência de não-privacidade que encontrei uma boa razão para me tranqüilizar: “Ao menos Deus não vai contar nada para ninguém e nem fazer fofoca!”.

Talvez você se escandalize, mas eu já cheguei a pedir a Ele para me deixar em paz. É claro que me arrependi desse pedido, porque a paz sem Deus é fictícia, é apenas um inferno personalizado de anarquia e desespero. Então mais cedo ou mais tarde acabei implorando para que Ele voltasse (como se Ele tivesse deixado de estar aqui por em algum momento!) ao menos aos domínios que antes eu considerava só meus e de mais ninguém.

Afinal, se Deus sendo Deus conhece o que penso, o que sinto, o que muitas vezes desejo, como poderá tolerar minha presença? Como se dará ao trabalho de ouvir minhas orações e estará disponível e disposto a cuidar das minhas necessidades? Acho isso extremamente constrangedor e muitas vezes inacreditável, ao ponto de deixar-me cético, num estado de honesta incredulidade. Só com o tempo, e olha que demorou bastante tempo, pude compreender que tudo isso também faz parte do milagre inexplicável da Graça. Vem junto no pacote e também não tem preço.

Mas não é difícil achar-me vagando pelos caminhos da razão, confabulando algum plano à mercê de Deus, buscando ser mais livre, mais humano, mais eu, o que bem sei que no fundo só me faria cativo a um senhor sem misericórdia, sem Graça e sem a paciência que o meu Deus onisciente tem para comigo.

É eu pensar em vagar e ir para longe que alguns quilômetros à frente Ele me cerca com suas cordas de misericórdia, fazendo-me regressar num instante de amor e segurança. Algumas vezes sou ainda mais insistente, pulo essa corda e insisto em ir sozinho. Posso imaginar o Senhor a enrolar a corda lentamente, apenas para mais à frente, num instante propício à Sua vontade, procurar novamente me trazer de volta, no movimento paciente de quem muito ama.

Estou aqui neste domingo imaginando o que seria de mim sem este Rei, sem este Reino e sem esta bonança. Do bastante que me conheço, sei que iria longe, a perder de vista, até o ponto em que nem mesmo eu me encontraria, perdido além da linha do horizonte, desfeito. E neste momento só posso agradecer por tudo isso, agradecer pelo fato da corda ser bem longa, talvez uma corda sem fim, apenas com seu começo em Suas mãos, a esperar por mim.

Obrigado, Senhor, por amar este fugitivo
Neste instante ledo em que me sinto vivo…

Seu,

Lucas Souza
21/09/2008


Fonte: http://lucassouza.wordpress.com/page/7/

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